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Lado B

J novembro, 2007

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Você conhece Eupídio, o petista arrependido? E a bela morena Gilvanka, que parece prostituta, mas não é? Nunca leu uma linha sobre o estilista Kuko Jimenez? Todos eles são personagens do mundo particular do cronista Voltaire de Souza, pseudônimo do colunista Marcelo Coelho, da Folha de S. Paulo. Suas histórias, em linguagem ultra-realista e telegráfica, conquistaram Ziza Brisola e Maurício Paroni de Castro. Ela é atriz e fundadora do Linhas Aéreas, e ele é diretor do Atelier de Manufactura Suspeita e do espetáculo Aqui Ninguém é Inocente, que reúne os dois grupos para dar vida a esses personagens, levando o teatro para as ruas e interagindo com os passantes. Ziza, que está neste momento no Sesc Bertioga apresentando um outro trabalho do grupo, conversou com a gente sobre o espetáculo que tem sessões dentro da Mostra de 27 a 29, no Sesc Consolação/Praça Rotary:

Como surgiu a idéia do Aqui Ninguém é Inocente?
Eu procurei o Maurício com a idéia de criar um espetáculo nas ruas de São Paulo pelo Programa de Fomento ao Teatro da Prefeitura de São Paulo. Nós já havíamos feito juntos um exercício de teatro chamado Deriva, que acontecia em locais públicos. Ele é muito amigo do Marcelo Coelho e fã do Voltaire de Souza, daí decidimos juntar as duas coisas. Saímos para a rua em um processo que durou seis meses, pesquisando, se exercitando, lendo o tempo todo as crônicas e vendo o que acontecia quando isso era levado ao público.

No vídeo, cenas do trabalho de pesquisa do elenco no centro de São Paulo

Os dois grupos já haviam trabalhado em parceria anteriormente?
Eu trabalhei em algumas peças do Manufactura, mas com outros atores. Já estamos há um ano nessa parceria e vem dando muito certo.

Existe de algo novo nessas apresentações que serão feitas para a Mostra? Algum personagem ou texto?
O espetáculo nunca é igual porque é improvisado com a platéia, e coisas novas acontecem dentro desse esquema o tempo todo.

O que atrai vocês no trabalho de Voltaire de Souza?
Alguns de nós conheciam menos, outros mais, principalmente o Maurício. Gostamos muito dos tipos e das figuras que ele apresenta. As situações são bizarras, com desfechos fantásticos e super teatrais. Não caímos na idéia de encenar as situações, e preferimos apenas pegar os personagens. Fizemos muitas leituras no estilo radiofônico antes de montar o espetáculo, na Biblioteca Municipal Mário de Andrade, no auditório da Folha e no lançamento do livro do Marcelo Coelho, Diários, de Voltaire de Souza, mês passado. Essas leituras sugerem que a gente possa vir a fazer algo pensado no estilo de rádio, mas não temos nada definido ainda.

Como é a participação do público no espetáculo?
Todo dia acontece alguma coisa surpeeendente, as pessoas são imprevisíveis. Os textos são super populares, a gente usa uma frase do Voltaire, fala para as pessoas e isso gera um diálogo que nem imaginamos. O público é livre para interrogar os personagens e falar o que quiser, mas tem dia que ninguém abre a boca. Em quatro meses de apresentação que fizemos no Satyros, em uns três dias as pessoas não falavam nada.

Ziza em cena com a personagem Gilvanka
 
Fazer o teatro na rua é uma forma de quebrar essa barreira de resistência que parece haver entre o grande público?
Acho que fazer na rua é uma opção de linguagem. Fazer teatro, de qualquer tipo, funciona como isso que você falou. Não sei o porquê dessa barreira. Será que o teatro muitas vezes não está sabendo se comunicar? Teatro tem que ter uma linguagem, que não é a de cinema nem a de tevê. É super legal quando a gente está na rua encenando, e o morador da praça interage com o morador de rua da peça sem se dar conta de que está participando de um espetáculo. A nossa maneira de se colocar é invisível, tanto que limitamos o público. Nos dias em que tem menos espectadores é que a peça funciona melhor. Já teve gente que pensou que era reunião do Alcoólicos Anônimos, porque o personagem que é ex-petista bebe e fala que está de ressaca (risos). É sempre uma peça totalmente nova e inusitada.

O personagem Kuko Jimenez em vídeo feito por Renato Rosati

AQUI NINGUÉM É INOCENTE – COMPANHIAS LINHAS AÉREAS E ATELIER DE MANUFACTURA SUSPEITA

SESC Consolação / Praça Rotary
De 27 a 29. Terça a quinta, 18h.

Grátis.

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